28 de ago. de 2011

11 de ago. de 2011

Clichê



Era madrugada, Rodrigo estava deitado na cama, em mais uma noite agitada. Não conseguia dormir, dava voltas na cama, perdido em recordações. Lá fora a chuva caía, era inverno e estava um frio arrasador. Este mês na verdade, foram passados assim. A chuva era a sua fiel testemunha, só ela testemunhava a dor, contava as lágrimas. Tentava ser forte entre os amigos, mas eles sabiam que era só ilusão. O verdadeiro Rodrigo brincava, ria, fazia rir. O Rodrigo dos últimos meses era melancólico, com o sorriso forçado, pensativo na maior parte do dia. Os amigos mais próximos conheciam Rodrigo mais do que porventura ele imaginava. Mas ele tentava, tentava disfarçar e se convencia que disfarçava. Dizia que estava cansado, nada mais. Os amigos por vezes zombavam com ele, diziam que ele deveria tirar umas férias.

A dor apertava no peito e as lágrimas cobriam o sono. Os fantasmas da noite sempre surgiam cruéis e devastadores, roubando a noite e a vida. Toda a noite sentia fraqueza, sentia as forças escorrerem do seu corpo e não havia solução a não ser se entregar. Mergulhava em um mar de recordações, ficava suspenso no tempo, relembrava de todos os momentos com ela. Momentos compartilhados com alguém que tanto o conhecia e pensava ele, tanto o amava.

Iria fazer dois meses após a partida de Sarah. O dia sete de julho frequentava permanentemente em seu pensamento, relembrando constantemente o dia em que Sarah bateu a porta atrás de si. Sarah saiu da sua vida sem uma razão concreta, sem um aviso prévio. Apenas disse que estava cansada da rotina, enquanto ele ficava perplexo ao ver a porta sendo fechada. As últimas palavras martelavam em seu pensamento. Cansada da rotina? Eles debatiam este assunto quase diariamente. Mas nenhum debate deu resultado, Sarah simplesmente cansou.

Rodrigo era um dos advogados mais conceituados da sua região. Ele sabia que tinha uma imagem a manter perante a sociedade, não podia admitir falhas. Tinha muito trabalho, muitas causas a defender, muitos papéis a rever. Por vezes chegava em casa e nem jantava, apenas beijava a sua mulher como um gesto de rotina, dizia boa noite amor e mais nada. Perdia horas em frente aos papéis, à procura do melhor para os seus clientes. Quando acabava tudo, Sarah já estava dormindo. Nesse momento beijava o seu rosto e acariciava os seus cabelos, nada além.

Ao rever os acontecimentos, Sarah já dava indícios de tristeza pela casa. Por vezes quando ia à cozinha para buscar um copo com água, Sarah parecia estar chorando e disfarçava. Quando Rodrigo perguntava o que tinha acontecido, Sarah omitia dizendo que tinha saudades da mãe, que morrera dois anos atrás. Como consolo, ele apenas beijava o rosto de Sarah e dizia que logo passaria. Mas ela queria mais, precisava de mais, de carinho. Todas as partículas formavam um sentido único, ela cansou e ele acompanhou a sua dor, sem fazer nada. Que idiota que foi!

Sarah fazia da sua vida uma melodia suave, do seu olhar como estrelas suspensas no céu. Agora sabia que ela fazia falta, não se diz que é quando se perde que damos valor?

Rodrigo se lembrava de todos os pormenores, do dia em que ambos os olhares se cruzaram pela primeira vez e o milagre do amor nasceu. O primeiro beijo debaixo de um manto escuro estrelado que confirmava o amor mútuo. A primeira roupa que Sarah vestiu em um dos seus muitos encontros. Mas as recordações que se mantinham mais acesas eram as mais vulgares, os pequenos gestos do quotidiano: Sarah ao acordar de um sono profundo de criança; Sarah a pentear os seus exímios cabelos em frente ao espelho; bailando pela casa com um sorriso perfeito; a sua voz ofegante, depois de uma noite de amor intenso.

Percebia que agora a casa estava vazia, sem os movimentos do seu corpo, sem a sua voz melódica. Agora vivia sozinho, vivia a vida como nunca tinha imaginado viver. Sempre sonhou construir uma família, ter pelo menos três filhos. Sonhava em ter a casa cheia de harmonia, amor, sonhos. Sonhava com o som do choro dos filhos a soar pela casa. Tudo desabou. Conhece essa história?

Bruno G. Weldt

Irreconciliável



Eu reconheço os meus erros, eu assumo as minhas falhas. Sei que te traí, mas eu ainda te amo. Você ainda é a protagonista dos meus sonhos. Ainda perco o sono nas madrugadas, choro intensamente pela ausência do teu corpo na minha cama. Mas eu sei, não demonstrei nada disso enquanto estive contigo. Fui um idiota por ter me deixado levar pela carne, acabei na cama com out nutre por mim, porque eu sei que ainda me ama. Sim, eu sei, porque eu ainda sinto o teu ciúme, o teu olhar não nega o amor que você teima em negar. Sendo assim, vamos tentar, só mais uma chance e eu vou provar que os homens não são todos iguais. Eu estou arrependido, a traição não significou nada, apenas um momento de fraqueza. Eu sou feito de carne e a carne é fraca! Por favor, desculpa a minha idiotice. Volta para os meus braços, tira este fardo dos meus ombros.ra. Eu sei que neste momento sente raiva de mim e com toda a razão. Só resta pedir desculpas e eu peço. Peço que se esqueça do que passou e volte para mim. Por favor, sei que não é fácil, mas tenta. Tenta pelo amor que ainda

Sim, você foi um completo idiota. Sim, você tem razão quando diz que ainda te amo, um amor não se esquece do dia para a noite. Mas você foi uma desilusão, passei o pior momento da minha vida ao teu lado, quando na verdade era para passar os melhores. O amor é confiança, eu já não confio em você. Como saberei se não haverá outra traição? Estou insegura, não sei se aguentarei outra dor parecida. O que eu fiz para merecer tamanha dor? Fiz algo de errado? Não, penso que não, não merecia. Eu sempre fiquei do teu lado, fui fiel, fui além de uma mera namorada. A tua recompensa é esta: a infidelidade. A mulher sempre descobre ou desconfia de uma traição meu bem, esse foi o seu erro, acreditou demais. Verdade seja dita, assumiu, mas e daí. A traída fui eu. Arrependimento? Arrependimento eu tenho por amar uma pessoa que não é digna de ser amada. Estou sendo malvada? Desculpa, você acertou quando disse que estou com raiva de você. Não te quero ver mais, simples assim. Não quero mais olhar para seu rosto sujo. Só peço que tenha a chance de provar a dor que estou sentindo. Quero que ainda sinta o que hoje estou sentindo. Mas não tenha pena de mim, um dia o sol brilhará.

Bruno G. Weldt