26 de set. de 2011

Infância



Sinto saudades dos tempos da inocência. Onde tudo era mais fácil, mais alheio. Nada mais importava a não serem meus carrinhos, meus brinquedos. Sinto saudades dos passos inseguros, enquanto caminhava e minha mãe me segurava pelos braços. Das caretas do meu pai que me deixavam deslumbrado, rindo com toda a força e contagiando quem estivesse ao redor. Saudades dos abraços, sem serem exigidos.

Mundo puro, coração protegido pelo amor dos progenitores. O sol parecia estranhamente mais brilhante, os pássaros mais fascinantes. Tudo parecia girar ao meu redor, tudo parecia estar ao meu favor. Tudo era diversão, nada era dor.

Bruno G. Weldt

25 de set. de 2011

A Carta



25 de setembro de 2011

Meu amor, eu espero que esteja tudo bem contigo e com os nossos filhos. Por aqui está tudo controlado. Aquieta o teu coração, estou bem, estou vivo. Bem, eu tinha prometido que assim que pudesse iria escrever esta carta. As comunicações aqui como já haviam previsto, são nulas. Ninguém se comunica, sendo que o único meio é este. Sempre que puder, responderei a todas as cartas que receber tuas.
A guerra está controlada, contrariando todas as minhas expectativas. Tudo parece estar ao nosso favor, o que poderá indicar que voltarei mais cedo para os teus braços. Não tenho nenhum ferimento, estou o mesmo desde quando cheguei, assim espero continuar.
As saudades já apertam no peito meu amor, fazendo com que as lágrimas rolem no meu rosto cansado. Já chorei algumas noites a olhar a tua foto. Nunca fiquei tanto tempo longe de você, já faz dois meses que aqui estou. Longe de tudo e de todos, longe dos teus olhos que eram como um porto seguro para mim. Mas tudo isto vejo pelo lado positivo, para mim é uma confirmação do amor que sinto. Significa que quero estar ao teu lado, que sinto a tua falta, que anseio pelo dia em que os nossos lábios se voltem encontrar. Estes dois meses revelaram que é contigo que quero envelhecer, você é a minha vida. Podem ser palavras bastante usadas no universo, as mesmas palavras de sempre. Mas é a verdade, é o que sinto. Eu sou louco por você, completamente louco. O meu coração está nas tuas mãos, será que consegue o sentir pulsar? Você o ouve chamando pelo teu nome? Ele só sobrevive nas tuas mãos.
Claro está, tenho enormes saudades dos nossos filhos. Eles devem chorar bastante não? São crianças, não entendem as obrigações. Saudades da Sarah, do seu perfume tão suave e doce. O Matheus deitado na cama, dormindo profundamente. Mas enfim amor, como disse, são obrigações. Tenho que defender a minha pátria. Mas não é o fim, apenas um até já. Acredito que voltarei mais rápido do que calculei. Eu estou vivo, não morri.
Vou ficando por aqui princesa, dona do meu coração, sou apaixonado por você. Assim como também amo incondicionalmente os nossos filhos. Mil beijos para você e para eles amor. Saudades.
                                                                                                     
                                                            Do teu eterno amante.


Bruno G. Weldt

14 de set. de 2011

Comparações



Vezes sem conta ficava na janela do meu quarto a contemplar o céu infinito que se estendia sobre mim. Apreciava um bando de pássaros que atravessava o céu, indo para lugar algum. O canto dos pássaros que inundava os meus ouvidos. O sol que caminhava vagarosamente para ser observado pelos olhos da humanidade. As gotas de orvalho sobre as plantas, as borboletas voando dispersas por todos os cantos. Na rua, os humanos em conversas indiscretas (outras vezes não), lutavam para garantir o pão na mesa. As crianças a caminho da escola gritavam e pulavam, não sei se de felicidade ou por desespero.

São lembranças que guardo comigo desde sempre. Na minha infância abundam momentos assim. Talvez sejam as recordações mais cravadas em mim, mais próximas. Recordações que quero transmitir para os meus filhos. Dias felizes, alheio a tudo e a todos ao meu redor. Dias felizes de coração intocável.

Agora, nos dias atuais, não dou mais tanto valor a esses momentos. Por quê fiquei apaixonado e levaram o meu coração. Por quê olho para o céu, para as aves e nada chega aos teus pés. Por quê nada mais faz sentido, tudo é insignificante comparado contigo. Contemplar o céu? Os traços do teu rosto são muito mais delicados e perfeitos. Os cantos dos pássaros não se comparam à tua voz que embala o meu coração. As aves que cruzam o céu, não se comparam ao dia em que ambos os corações se cruzaram. Mas assim como as crianças vão e voltam, você foi e não voltou.

Bruno G. Weldt

1 de set. de 2011

Dom ou Engano



Escrevo para alguém ou para ninguém. Escrevo por que guardo palavras, não liberto elas de forma vã. Desabafo para uma folha em branco, todos os meus sonhos, tudo o que sou e tudo o que não sou. Escrevo palavras sofridas, carregadas de dor, de felicidade. Conto histórias verdadeiras ou falsas, acreditando nelas ou não. Eu e a imaginação, eu e um papel inofensivo, eu e a solidão. Assim escrevo por prazer, por necessidade, talvez por dom ou por engano.

Bruno G. Weldt


  



Vida Do Avesso



É  verdade, já passou um ano. Um ano se foi desde que deixei para trás o solo amado. Ainda consigo, se fechar os olhos, rever todos os últimos momentos. Sem nenhum tipo de esforço, tudo sai sem teimosias. Se permanecer imóvel durante segundos, viajo pelo passado, sentindo ainda a dor que sentia quando tudo parecia não ter volta. Creio ainda mais que a vida voa e não espera por seus donos.

Mas aqui estou eu, incrédulo, mas com um sorriso na face. Simplesmente o pior momento passou, levando com ele o fardo que eu carregava nos ombros. Simplesmente sobrevivi, quando na verdade pensava que iria padecer. Vivendo e aprendendo com a escola da vida.

Hoje vivo uma vida que nunca pensei viver. Vivo a vida de forma amena, não muito feliz, tampouco melancólico, habituado apenas. Habituado a viver conforme posso, conforme o que tenho para viver. Habituado  a ficar em frente ao computador, falando com as pessoas que já não vejo diante de mim. Apenas habituado.

Bruno G. Weldt