22 de jul. de 2011

Talvez Um Dia



Ele estava de frente para o lago, com as mãos segurando a anca, os pés martelando o chão sujo. Postura perfeita para quem quer soltar uma bomba. O seu ar era um misto de preocupação e dor, Sarah entendeu isso.

- Oi. Tudo bem? Notei preocupação na tua voz quando me ligou – Sarah se junta a Matheus, os olhares se cruzam, envolto de tanto mistério.

Sarah, desculpa. Eu preciso te dizer uma coisa. Eu vou ser rápido, isso ta me doendo também – o seu olhar de aflição, fazem as pernas de Sarah tremerem. Em segundos as peças começam a se encaixar na cabeça dela. O mundo de Sarah desaba, as lágrimas cobrem o seu rosto e borram a maquiagem. Com as pernas fracas ela se senta no banco do parque. O dia estava propício para uma despedida. O céu nublado cobria todo o manto sobre eles. Algo estava errado, o aperto no peito que sentiu com a ligação de Matheus, era o prenuncio desastroso do final da tarde.

Desculpa, mas eu já não gosto de você. Desculpa, eu quero por um ponto final na relação. Não posso mais omitir o que está estampado no olhar. Eu já não penso em você, estou apaixonado por outra. Por favor, entenda, sei que é difícil, mas estou sendo sincero - declarou Matheus buscando forças em lado algum para não fracassar.

- Eu sabia, eu sabia. Tudo mudou, eu sentia o teu desinteresse, você estava frio. Eu falava tantas coisas e nem uma você ouvia. No fundo eu sabia que algo estava errado, apenas não queria ter certeza. Mas agora tudo faz sentido. A tua voz não era a mesma, os teus beijos sem sentimento, o teu toque desleixado. Você pensava em outra quando estava comigo? – as mãos de Sarah ficam suadas, a sua cabeça começa a dar voltas, o passado não muito distante surge em meio às lágrimas choradas.

Por isso mesmo, não podia mentir. Você não merece ser enganada. Apenas fui sincero e juro, eu também estou péssimo Sarah. Não queria que nada disso estivesse acontecendo. Mas são loucuras do coração – desabafou, assentando-se junto de Sarah.

Amanhã essa tua dor passa. E eu? Como fico? Sofrendo por alguém que pensa em outra! – os seus olhos não largam os de Matheus.

Por favor, entenda. Você é linda e o tempo sara tudo. Irá encontrar alguém que te faça feliz. Que estará ao teu lado nas horas difíceis, que te ame mais do que qualquer outro, que não seja otário como eu – Matheus se ajoelha e com um gesto delicado, limpa as lágrimas do rosto borrado de Sarah.

Sarah amava Matheus, até mais do que a si mesma. Naquele momento, com as mãos dele enxugando suas lágrimas, sentiu vontade de se jogar em seus braços e se entregar novamente. Tocar nos seus lábios pela última vez. Talvez com um beijo, ele poderia despertar novamente para o amor, como uma carta tirada da manga. Poderia reacender novamente com um beijo apenas, como se o amor que sentisse por ele fosse transmissível. Mas hesitou, não podia, não queria. Não queria demonstrar fraqueza, era uma questão de orgulho! Com um movimento brusco, Sarah afasta as mãos de Matheus do seu rosto e quebra o silêncio.

Eu vivo o presente, eu vivo o agora e agora sei que te amo. Eu sei que esta dor no peito não é vã. Esta dor é por que te amo como jamais imaginei ser possível. Será que você não consegue decifrar o que o meu olhar diz? – sua voz saía aos berros, parecia não se importar com os rostos alheios que a fitavam pelo parque. Não chorava mais, a raiva tomou conta do seu corpo.

- Sarah se controla, por favor, estão todos olhando pra gente!

Eu quero que eles se explodam! Ninguém conhece as minhas dores! Some daqui, por favor, desaparece da minha vida – tentando continuar forte, Sarah se levanta e de costas para Matheus, perde o olhar no céu preenchido pelo som da trovoada que se aproximava.

Tudo bem. Mas você sabe que eu não acredito no acaso, o que tem que acontecer, acontece. Isso tinha que ser assim, será que a culpa é minha? – interrogou Matheus.

A culpada sou eu por te amar tanto. Por calcular que a relação estava fria e não ter feito nada. Agora, por favor, esquece tudo, não te quero ver mais – Sarah caminha perdida com passos inseguros.

Espera, espera, por favor – Matheus puxa o braço de Sarah e a traz para junto do seu corpo, segura o seu rosto com ambas as mãos. Neste instante, um estrondo surge no céu e a chuva cai.

Me solta! O que você quer mais? Continuar o massacre? Eu não tenho armas para lutar, você venceu – era inevitável controlar as lágrimas que inundam seus olhos, então Sarah chora, agora nada mais importa. Que olhem a relação findada. Nada mais interessa. Que julguem quem foi o errado, que tenham pena. Irão restar as lembranças que nenhum conhece, os sorrisos que nenhum deu, a felicidade que ninguém teve a chance de observar.

Alguma vez te vou ver de novo? Responde – perguntou com lábios molhados.

- Isso interessa? Acho que não. Não é a mim que você ama – entre lágrimas e soluços se sentia derrotada. A voz de Matheus tão perto e ao mesmo tempo tão distante. O seu corpo, o seu cheiro. Tudo isso castigava mais e mais o coração de Sarah.

Responde somente.

Quando eu conseguir te olhar sem te desejar, sem desejar tua boca. Quem sabe quando meu coração se soltar do teu. Talvez quando deixar de pensar em você, se isso for possível. Quem sabe um dia. Agora me deixe ir, não dificulte – pediu exausta.

Tudo bem. Felicidades - disse sinceramente num sussurro.

Então Sarah parte, sem coração, sem olhar para trás. Sente seu corpo fraco, as pernas cambalearem, sente frio. Caminha molhada, molhada de lágrimas que se misturam com a chuva que cai. Tudo parece irreal e assim se deixa levar. Para trás 
ficou um amor, sete meses, ficaram promessas, ficou uma vida.

Bruno G. Weldt






























  



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