24 de jul. de 2011

Dia Fatídico



Como esse fatídico dia ainda penetra no meu pensamento, como se fosse ontem, mas já faz um mês. Foi o pior dia da minha vida, a partir daquele dia eu mudei. Mudei com as pessoas, agora vivo numa fortaleza que eu próprio criei no meu coração. Sou bruto em algumas respostas, perco a paciência facilmente. Por conta disso já perdi amigos que se cansaram de mim. Mas eles nada sabem, nada viveram.

Foi num dia normal de trabalho, voltando para casa. Entro e vejo que algo está errado. Nesse dia você não esperava por mim em frente à porta, contrariando o costume.  A casa parecia vazia, sem movimentos, sem som. Chamo pelo teu nome e de resposta tenho só um gemido. Caminho pela casa hesitante, com receio do que pudesse estar acontecendo. Os gemidos eram mais fortes e constantes na medida em que ia me aproximando. Quando chego à cozinha, perco o chão. Uma dor insuportável trespassa o coração e eu sinto náuseas. Você estava caída no centro da cozinha, com as roupas manchadas de sangue. Suas mãos sangrentas pressionavam uma ferida no ventre. Por impulso corro até ao teu corpo, ponho a tua cabeça sobre as minhas pernas, os teus olhos cheios de dor chocam com os meus cheios de medo. Pergunto o que aconteceu, mas tua voz sai inaudível, dominada pela dor. Rapidamente, com as lágrimas a distorcerem os números, luto para chamar a ambulância. Infelizmente não haveria tempo.

Então você morre nos meus braços e a tua vida é reclamada aos vinte e quatro anos. Os teus sonhos interrompidos precocemente, justo você, que levava no olhar toda a inocência do mundo. Eu gritava pelo teu nome, implorava, talvez com a esperança de que tudo não passasse de um pesadelo, mas nada mais adiantaria. Com as mãos trêmulas, fecho os teus olhos. Uma lágrima rola pelo meu rosto e cai na tua face, descendo até tocar os teus lábios. Só restava chorar e eu chorei, abraçado ao teu corpo morto, envolvendo o meu corpo no teu sangue, no meu sangue.

Nesse dia senti fracasso, dor, pânico. Ninguém sabe a dor que eu senti, nem o cenário horripilante, surreal que vi. Eu vi morrer em meus braços, a pessoa que mais amava. Eu vi, bem ali, diante de mim e nada pude fazer. A dor é como facadas que despedaça o coração, na verdade todo o corpo, restando apenas lágrimas para se chorar. O corpo fica paralisado, os movimentos se tornam dolorosos. Não se pensa, flutua. Não é real, é um filme de terror. Mergulhamos num abismo sem fim. Tudo à nossa volta parece morto, sem cor. Tudo à nossa volta é escuridão e sangue. 

Saber que toquei no teu corpo pela última vez me desespera. Nunca mais vou contemplar a tua beleza enquanto você dorme. Nunca mais vou presenciar as tuas teimosias, os momentos em que se sentia contrariada e fazia beicinho. Quando você colocava a cabeça nas minhas pernas para descansar e ficava pensativa. De nada vou me esquecer, você será eterna, assim como o nosso amor.


Bruno G. Weldt




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